CIB1. LISBOA. ANTT: MS. DA LIVRARIA, 875

PARATEXTOS FRONTISPÍCIO

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[1r] Primeira Parte da Crónica do Emperador Beliandro, em que se dá conta das obras maravilhosas, das valerosas façanhas que no seu tempo obrou o príncipe Belifloro, seu filho, e dom Belindo, príncipe de Portugal, e outros muitos cavaleiros.

 

COMPOSIÇÕES POÉTICAS

 

I PARTE 

 

[22r/a] No tienen los hombres
verdad en amor;
engañoso el trato,
mentida la acción.

De cuantos amaron,
ninguno morió
ni en penar auzencia
ni en sufrir rigor.

Como todo fingen,
corre en su afición
riesgo el apetito,
mas la vida no.

 

 

[32v] Señoras, los condenados de Amor por una ley desigual perguntan de dónde les viene tan viva fuerça al recelo cuando falta la esperança.

[33r] À Senhora Pinaflor:
Son los mayores recelos
de no tener esperança.

D. Belindo

À senhora Leridónia:
El no tener esperança
da mayor fuerça al recelo.

Belifloro

À Senhora Beliandra:
Donde hay faltas de esperança
siempre hay sobras de recelos.

Floranteo

À Senhora Leridónia:
Ni de poder recelar
se me permite esperança.

D. Belindo
À Senhora Delfina:
No ofende con los recelos
quien vive sin esperança.

Rolindo

À Senhora Alcidónia:
Castígase una esperança
como si fuera un recelo.

Artauro

À Senhora Floridea:
Tuviera yo por gran dicha
poder tener los recelos.

Belifloro

[33r/b] Bien hazéis en recelar.

Pinaflor

Pudiérase recelar
el hablar en esperança.

Leridónia

Seguros podéis vivir
que de nada tendréis sobras.

Beliandra

Bien mejor estáis sin ella.

Leridónia

Nadie os livra de ofensa.

Delfina

Como son culpas entre ambos,
será igual el castigo.

Alcidónia

No tendréis invidiosos d´esta dicha.

Floridea

 

 

[91r/a] Ao cavaleiro que,
depois de ser o mais fino e verdadeiro em amar,
foi pago com a maior ingratidão
será concedida esta entrada.

 

 

[129r/a] Temiendo eternidade a la violencia,
viendo eterna la causa que ha vencido,
ofrecióme el discurso por partido
enflaquecer en mí la resistencia.


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Más desprecia socorros la paciencia
y estoy a ageno gusto tan unido,
que aquel que contra mi rigor ha sido
no puede resistirse de clemencia

A temer llego, si es atrevimento,
tanta conformidad a tanta ofensa,
pues queda resistencia al sufrimiento.

Imposible será la recompensa,
si es que al paso que crece mi tormento,
crece el amor y crece la ofensa.

 

 

 

CARTAS

 

I PARTE

 

[1v/a] Senhor, [1v/b] o sábio Arideo, servo dos soberanos Deuses, a Vós, Excelentíssimo Emperador de Grécia, saúde.

A tristeza em que hoje está a vossa corte será em breves tempos convertida na maior alegria, porque os vossos filhos estão em parte onde serão tão bem servidos como o podiam ser em vossa casa, e quando os virdes será a tempo em que o leão mais feroz sairá da mais escondida cova e com o primeiro bramido chegará ao último da vida a real onça, que livre pelos bravos leões ficará essa corte na maior alteza. E o que aqui digo sucederá sem faltar nada.
Os Deuses sejam em vossa guarda e vos dêem os aumentos que este servo dezeja.

 

 

[27r/a] Tantos anos de vida malgastados são cutelos da vida e tiranos do entendimento, que quem, em nacendo, não soube atinar a servir-vos, não merecia entradas para [27r/b] adorar-vos. Mas vós, senhora, que valeis esse conhecimento, aceitai por reparos da inocência os estremos do maior amor, que quando lhe não devais satisfação, ao menos, não lhe podeis negar as lástimas.

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Anos de vida malgastados são os que os príncipes passam nas aldeas. Assi fora rezão que o vós entendéreis. Pelo menos, deveis-me a mim desejar muitos que os empregueis melhor que aqui. Ainda que vos estimem não vos podem ter [28r/a] lástimas.

 

 

[56r/a] Amar-vos é crédito de quem vos vio. Confessar-vo-lo é perder o merecimento, que o poder não grangea confiança onde o amor se faz respeito. Só espero que entendais que não ofende em adorar-vos quem não espera mais que permitirdes que vos sirva.

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[56r/b] Com segura confiança partio meu pai a servir a Vossa Alteza, crendo que os príncipes cristãos não afrontavam vassalos leais. Se se enganou no que esperava de Vossa Alteza, não se enganará do que fiou de mim.

 

 

[86v/b] A Emperatriz de Babilónia, Lucano, Emperador da Grão Turquia, o Grão Sofi da Pérsia, os Califas de Hicónia e Alepo, os Reis de Arménia, de Calcidónia, de Argel, de Fez, de Epiro, Narsinga e do Cairo, e os mais reis, nossos valedores e vassalos, fazemos saber a vós, Emperador de Constantinopla, que pelos grandes agravos que por permissão dos Deuzes temos recebido de Vós e de vossos cavaleiros, vos desafiamos a todos os reis cristãos.
De hoje a seis mezes, com todo o poder de nossos estados, estaremos nessa barra onde poderá ser vos arrependais do que vos devíeis persuadir vos não pediríamos conta.

Os Deuzes sejam em vossa guarda.

 

 

[89r/b] Arideo, servo dos soberanos Deuzes, a vós, D. Belindo de Portugal, saúde.

Bem vejo a queixa com que estareis de quem vos tirou da solidão que escolhestes para reparo da dor com que a buscaste, mas afirmo-vos que tendes menos rezão do que cuidais, porque eu, que fui o culpado, sou o que mais dezejo vosso descanço e o que o hei de procurar, como vós vereis. Crede que o que mais o convém é o haverdes saído donde estáveis, porque nisto remediais os necessitados do mundo, consolaes vosso pai e alegraes aos emperadores. E fiai de mim, que não descontentais a quem vós quereis obedecer. Vinde-vos a Niquea, aonde com mais particularidade vos direi o que mais vos importa.

Os Deuzes sejam em vossa guarda.

 

 

[130r/b] O Cavaleiro Triste, perseguido da fortuna, maltratado do amor, aborrecido da vida e desprezado da morte, às princezas gregas, saúde.

Seguindo uma desesperação, me força o que sinto a defender morto o que padeci vivo. Vossas Altezas, se condenarem o que defendo, lembrem-se que quem soube adorar firme, que se tem desculpa em deixar o juízo nas mãos de uma mudança que não mereceo, que pode defender sem ele que nas molheres anda igual a mudança com a fermosura, e que tanto têm de fermosas quanto de mudáveis. Três dias o sustentarei nesta praça se Vossas Altezas derem licença.
Que os Deuzes guardem com as prosperidades que merecem.

O Cavaleiro Triste.

 

 

[132v/a] Se me animou a esperança deste listão, também posso ter desculpa neste atrevimento. Que oferecer adorações não pode ser ofensa do maior respeito. Inda que sei com quem falo, não sei quem me há de ouvir e faz o temor que fique na alma tudo o que desejava que dissesse este papel.

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Não sei se vos ouvio a quem vós quereis falar, mas sei que vos fala quem lhe não peza de vos ouvir. Se pode o que mereceis dar desculpa ao que me aventuro, possa o que eu sou dar à fé interesses de esperanças.

 

 

[133r/b] Não deixa fazer discursos uma dor grande, porque vos vi entre muitos inimigos e, na dúvida de não saber como ficastes, pôde mais a desesperação que o respeito, que fiando muito do vosso valor temo tudo da minha fortuna. Não me dilateis saber como estais, e se for como eu dezejo, não ficará sem satisfação o meu cuidado.

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Com a vida se poderá grangear esta obrigação, que tão pouco sangue é pequeno preço de tão grande dívida. No vosso sobresalto esteve o meu risco, que a vossa vista não podia temer outro quem cobrava ânimo na rezão por que se aventurava. Amanhã, se me não matar a saudade, vos irei dizer o lugar que sabe dar minha estimação a esta lembrança.

 

PROFECIAS

 

I PARTE

 

[13r/b] Tu, cavaleiro que aqui chegares,
se não temes a morte que te espera,
tangendo essa bozina te serão abertas as portas.


Tu, donzela tão bem-afortunada que aqui chegares,
sabe que não passarás a porta sem receber a maior ferida.
Se te atreves a esperá-la, bate a essa porta.

 

 

[36r/a] Este é o Inferno de Rodearte, onde pagará a culpa de suas inconsideradas entregas. E a princeza Lindoniza pagará a ingratidão com que quer antes conservar-se livre que satisfazer ao amor do Príncipe de Inglaterra, e ele e Estanislao defenderão a entrada aos que quizerem libertar os condenados ao maior tormento, que não poderão ser livres senão pelo cavaleiro que no valor e no amor passe a Rodearte e lhe faça ventagem em ser mal satisfeito, e por uma dama que passe em fermosura e ingratidão a Lindoniza.
E tu, cavaleiro que não fores tributário ao Amor, não cometas a entrada porque terás certa a morte neste fogo.

 

 

[37r/a] O grão sábio Apolidón de Grécia diz que nos Montes Cáspios está o Castelo da Crueldade, onde penarão as princezas gregas castigos do ódio da fera Grifónia.

 

 

[86v/a] No Castelo das Vinganças de Grifónia pagará Dorcina os agravos que lhe tem feito.
E vós, cavaleiros que aqui chegardes, não vos canseis em lhe procurar a liberdade, porque achareis primeiro a morte que lha possaes dar, nem ela a terá senão pelas mãos de quem menos a espera.

 

 

[90v/b] Tu, cavaleiro que aqui chegares,
não intentes passar daqui,
porque não é concedida esta entrada
senão ao que em amor e firmeza fizer ventagem
a todos do seu tempo.

 

 

[112r/a] Os cavaleiros que aqui chegarem
saibam que lhes convém entrar por cada arco um só,
porque de outro modo lhes não será concedida a entrada,
com que terão mais certa a morte
que o poderem sair com vida dos perigos que dentro acharão.


[112r/b] Na Casa dos premiados do Amor se depozitará Polidora,
até que pelas mãos do melhor cavaleiro,
e a quem o mesmo Amor promete maiores satisfações,
seja restituída ao primeiro estado.

 

 

[112v] Na casa da Tristeza penará o Príncipe de Serdenha a culpa de querer ser melhor amigo que fino amante, até que o cavaleiro que no amor lhe fizer maiores ventagens e que na tristeza a faz aos que melhor a sabem sentir, o tire de tão triste lugar.

 

 

[119v/b] Tu, cavaleiro tão ditoso que chegares a este lugar, [120r/a] trabalha por vencer as guardas do Castelo das Maravilhas em que o grão Sábio Apolidón, em benefício dos emperadores de Grécia, deixou depositadas as Coroas da Fermosura para as que melhor as merecessem. Se não temes os perigos dele, toma essa chave com que te será aberta a porta.

 

MAIS INFORMAÇÃO

Primeira parte com 41 capítulos e segunda parte com 56 capítulos.