TíTULO COMPLETO DO LIVRO
Belianis de Grécia. V parte.
AUTOR
FRANCISCO DE PORTUGAL
MANUSCRITOS
BG5. LISBOA. ANTT: MS. DA LIVRARIA, 1144
COMPOSIÇÕES POÉTICAS
[p. 14]
Aqui neste alegre cítio
hoje por vós maes alegre
porque quando são de gosto
prezenças alegrão sempre
Marte com Vénus o diga
e quando o negarem, mentem,
poes pode trazer Vulcano
por testemunha ũa rede.
Aqui podeis descansar
sobre os vistozos tapetes
que a natureza, grã mestra,
delicadamente tesse.
Aqui ao negro solitário
responde o canário verde,
ali o pardo rousinol,
cantando chora o que sente.
Aqui o vário pintasilgo
e pintarrocho competem
com taes quebros que estas penhas
os escutam e se entrenessem.
Podeis descansar das armas
deixando-as seguramente
consagradas ao amor brando
que as maes duras armas rende.
Aqui gozareis das flores,
que em competência se vestem
de várias couzas que o vário
sempre fermozo paresse.
Entre as margens de esmeraldas
vereis de cristal correntes,
que, sendo espelho a estes montes,
estes campos enriquessem.
Tudo aqui respira amor
tudo amores canta, e ver-te
o ar, as aves, as fontes
porque a amor tudo obedece.
E vós, claro original,
de quanto aqui resplandesse,
Beleaniza inda maes bela
que a lus rozada de Oriente.
Este cítio o veste céo,
poes o pizaes reconhece
que só a vossa fermozura,
graça e fermozura deve.
[p. 18] Quanto ele maes se encobre, maes me abraza.
[p. 18] Inda assim não me arrependo.
[p. 27]
Se ũa erva que caresse
de sentido a lus namora,
com maes cauza o fas, senhora,
quem vos ama e vos conhece.
[p. 28]
Meu desejo neste céo
onde se vem mil estrelas
quis só seguir ũa delas.
[p. 29]
Por ũa força secreta
onde esta alma se consume,
vou a queimar-me no lume
como simples borboleta.
[p. 88]
Feste Amor gigante em mim,
nele gigante me vejo.
Tanto pode meu dezejo.
[p. 112]
Pera ser triste nasci
e o ingrato amor o ordena;
deu-me a mi mesmo por pena
sem poder fugir de mi.
Quão deferente me vejo,
pois hoje a mi me sobejo
e outro tempo me faltava
quando sem mi todo estava
no bem que inda hoje desejo.
Acabou-se aquela glória,
fiquei triste só comigo,
donde para mor perigo
inda encontro com a memória;
ali se renova a história
de meus malogrados anos,
entre verdades e enganos
tiranos desta vontade,
porque enfim sempre a verdade
a castigarão tiranos
e aqui donde a paciência
só do que tive ficou,
porque o que era antes não sou.
Choro minha própria auzência,
fasso toda a deligência
e vejo que ando ofendido,
pois de sentir o sentido
só me dão novas de mi,
que quem não se acha em si
e sente vai mais perdido.
[p. 136]
Este é aquele que Amor o mundo chama,
tirano de almas, da razão tirano,
que por monstro infernal selebra a fama
e homeçida rapas e velho insano,
que infame morra, pois que o mundo infame
deu por sentença o santo dezengano
sem cabessa aqui o pôs ning[u]ém lhe peza,
porque é só deos da gente sem cabeça.
PROFECIAS
[pp. 129-130]
Um sábio a quem faz // afeisoar a tuas couzas, o saber que lhe há de vir o remédio delas, quis que achases nesta ágoa o fogo em que te abrazas porque também ha de ter parte em minha vida, a qual será ganhada quando achardes a tua maes perdida. E porque sei a pena que tens de não saber o nome de quem amas, te avizo que loguo te partas em companhia desse sobrinho meu, que com essas armas te mando, que asim convém a tuas couzas para que alcanses o descanso que dezejas.