TíTULO COMPLETO EDIÇOE
Argonáutica da Cavalaria I-II.
LIVRO AO QUE PERTENCE
OTROS MANUSCRITOS DEL LIBRO
PARATEXTOS FRONTISPÍCIO
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Segunda Parte do príncipe Leomundo de Grécia, e de outros muitos príncipes e cavaleiros, e grandes acontecimentos do poderoso emperador Leomarte de Grécia e restauração da grande e famosa cidade de Constantinopla, segundo o escreveo na língoa grega o grande sabedor Arideo, na latina o excelente poeta Plotino, na portuguesa Tristão Guomes de Castro.
PARATEXTOS PRÓLOGOS
Não se conserva.
PARATEXTOS DEDICATÓRIA
De acordo com Diogo Barbosa Machado, a obra teria sido dedicada a D. Francisca de Aragão.
PARATEXTOS CÓLOFON
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ARGONÁUTICA II CÓLOFON 177V | 279.17 KB |
[177v] Fim do Segundo Livro da Argonáutica da Cavalaria, que trata da
grande história e famosos feitos do invictíssimo e assinalado príncipe
Leomundo de Grécia [e das] altas e estranhas avinturas que acabou,
com as de outros príncipes e cavaleiros que no seu tempo
melitaram e pelo mundo as andaram buscando.
COMPOSIÇÕES POÉTICAS
PARTE I
[110r] Cansão
Amor, que ao entendimento,
posto que como um sol embravecido,
penetra o pençamento,
que te vês em teus abismos escondido,
se juntamente foras entendido
da causa donde vens gentil e feito
bem como própio efeito,
sempre foras querido, sempre amado
e nunqua aborresido e despresado.
Tu só em várias formas
a teus altos intentos mui conformes
um amante trasformas,
porque do teu poder o mundo informes
em valeroso coração não dormes,
mas s´estiveras neste seu despeito
e vira o meu aberto,
que segredos tão altos se deriam
que eles ambos somente entenderiam!
Um amoroso exseso
com voz de ferro e língoa de diamante,
como quando mui polido e tremante
mostra por tua mão no forte escrito
seu amor infinito,
tua muda eloquência te declara
e no silêncio tens a voz mais clara.
Amor, aquele peito
inframa de amorossa piedade,
que asim me tem sogeito
o coração, a vida, a liberdade.
Então se saberá com mais verdade
a desta minha fé e deste estremo,
que, posto que contigo nada temo,
temo daquela vista um desengano
de que a morte seja piquena no dano.
[113r/b] Obedeçamos a Amor,
pençamentos escondidos,
posto que em minha ventura
até de Amor desconfio.
Ele me manda que cante
ao som de tantos sospiros,
tomando por instromentos
o tormento de que vivo.
Que hei-de cantar a este som
aonde não sou conhecido
nem pelo bem que procuro
nem pelo mal que imagino.
Que grande desatino,
que temo aquele bem que vou seguindo!
[113v/a] Fermosíssima senhora,
não deis a meu mal ouvidos,
que sinto que hei-de perder-me
se souberdes o que sinto.
Deixai-me ser o que sou,
triste, rústico, atrevido,
que se me tornasse grande,
temera grandes perigos.
Não mais acabe-ce o canto
que vejo destes princípios
outro fim tão diferente
como o da sorte em que vivo.
Que grande desatino,
que temo aquele bem que vou seguindo!
[125v] Esperança tão fermossa
e d´estremos tão suaves,
por ser guardada entre as aves,
a terão por perigosa.
PARTE II
[6r] Quem está metida ou sepultada
debaixo desta pedra forte e dura?
Um corpo afurtunado, ũa figura
da morte e do amor aqui botada.
Como foi no mundo já chamada
esta infelice creatura? Bricélia.
E o da triste sem-vintura
só de amores morta e acabada!
Que Parca foi aquela que cortou
de ũa dama tal a doce vida?
Um príncipe tão grande e valerozo
que só a saudade sua a matou,
e tem por isso a alma internecida,
não porque é mui alto e generozo.
[20v] Neste preságio tão forte
trago a alma escurecida
sem ter esperança na vida
nem menos remédio na morte.
[20v] Nem assim se satisfaz
por me dar maior tormento
nem menos ver o que sustento
na crueldade que faz.
[37r] Olhai, Amor, o que ordena
para maior tormento da vida:
que me tirem o coração
e o queime a Opinião,
e quer que ainda assim viva.
[67v] Se como tive a sorte e a ventura,
senhora, de ser vosso fora certo
o prémio deste bem, que mor acerto
que ser captivo desa fermosura?
Mas como de ũa pedra seca e dura
tendes sempre o peito descuberto,
cuido que é um grave desconcerto
com que o amor me ata e asegura.
Rigor que dentro na alma mais se sente
que todo quanto mal tem recebido
de vossa violência e cruesa,
por quão áspera, impurtuna e duramente
tratais a este vosso tão vencido
dessa tão estranha gentileza.
[68v] Era um alegre, claro,
fermoso e alvo dia
[69r] em que a délia fortaleza
com mor força nele ardia,
quando de rozas e flores
toda a terra se vestia
e o vento com suavidade
por elas todas feria,
quando a pegácea fonte
brandamente ao mar corria
e as alteradas ondas,
de bravas, manças fazia;
quando o grão Príncipe Grego
alma e vida consumia
em dolorosos suspiros,
porque de Espanha partia
a só comprir o desterro
de quem desterrar o podia,
mas temendo o ver-se absente
de quem mais que a si queria,
com lágrimas saídas da alma
se aqueixava e a si disia:
«Pois querem os Fados,
deixai-me acabar
aqui neste mar,
tristesa e cuidado;
aqui nestas ágoas
deixemos a vida,
[69v] pois é bem perdida,
tão chea de mágoas;
aqui pençamentos,
fadiga e dores,
aqui, meus amores,
dai fim ao tormento;
aqui no presente
sintamos, Amor,
o cruel disfavor
do mal de absente».
E como esta lacrimosa
endecha em terra caía,
trespassada alma e vida
em tristesa e agonia.
[70r] Que tiro foi já tão desordenado
o com que Amor cruel me asertaste?
Que glória, que vitória, que estremado
triunfo o que hoje alcansaste?
Que feito tão famoso e levantado
de um pobre roubar o que levaste,
deixando-me de todo consumido
e por ti, ó Rocilea, tão perdido?
Por ti, por cuja fé e alta sorte
na frágoa imortal do sofrimento,
[70v] batendo está na vida a cruel morte
sem já poder mudar meu pensamento.
Por ti, ó Rocilea, puro norte
de meu imensíssimo tormento,
por ti, ó lus angélica, formada
daquele por quem foste retratada,
por ti, em cujo fogo a penetrante
ceta o duro Amor está forjando
pera com mais forte e exorbitante
força a minha alma ir trespassando,
pois vê, ó Rocilea, se bastante
será a quem por ti está passando
pena tão cruel sem ter vintura,
estado, nem valor a esta figura.
[77r] Alva e branca sois, senhora,
e pela mesma razão
[77v] vos trago no coração.
De vós nasce todo o bem
quanto a vida alcansa.
Em vós minha alma descansa,
porque sois todo o seu bem,
pelo que vos trás e tem
posta com tanta razão
lá dentro no coração.
Vós sois só, alta princeza,
meu bem, praser e alegria;
vós só a que cada dia
me tira a alma de tristeza;
vós a que nesta largueza
estais com tanta razão
dentro no meu coração;
vós a que fas padecer
ao vosso pastor Linterno
tal tormento que o do Inferno
já maior não pode ser;
vós só a que pode ver
com quanta e justa razão
estais no meu coração.
[82r] Quem diz que Amor abraza o coração
por ser fero, cruel e deshumano,
deve ser de leve opinião.
Castiga como justo tal engano
ao néscio, torpe, vil, ao insensato,
ao duro, regurozo e pouco humano;
castiga ao invaidor e pouco grato,
a hum cabelo crespo ondado d´ouro
o que ao Amor se mostra sempre ingrato;
castiga o de Apolo verde louro,
que com tal cautela e sutileza
já nunca quis largar o seu tizouro;
castiga ao que não teme a fortaleza
de quem alma e vida em fogo acende
nem sabe uzar consigo gentileza;
[82v] castiga a quem não ata nem se prende
de uns olhos de esmeralda ou ser fermozo
ou de um peito cristalino se defende;
castiga a quem não toma por repouzo
tormentos, dores, penas ou tristezas,
ou nelas se não mostram generozos;
castiga vãos despresos e cruezas;
castiga um peito brando enrequecido
de lágrimas, suspiros e nobrezas;
castiga quem não é muito perdido
de amores e por eles não espera
de ser do mesmo Amor favorecido;
castiga toda a dama ou donzela
tão chea de altiveza fraudelenta
que de todo a quem não serve desespera;
castiga toda aquela que, izenta,
ao Amor se quer mostrar seca e dura,
ou contra o ser de ũa alma violenta.
Assim que é só Amor ũa tenrura,
sempre aspira o bem e dá vitória
a toda fé leal, limpa e pura
que mais cuida longe estar de sua glória.
[90r] Aqui descança em terra já tornado
o grão príncipe da Grécia Leomundo.
Aqui metido está no mais profundo
desta rija pedra sepultado.
Morreo por Rocilea, cujo estado
foi tão duro, cruel e furibundo
que sobre apartar-se assi do mundo
sempre foi por ela atormentado.
Ainda que aqui deu fim à vida
por esta cereníssima Princeza
de toda a perigrina fermosura,
mágoa foi certo só nascida
de sua estranhíssima crueza
e assi ordenada da vintura.
[91r] Que queres mais de mim, ó cruel Amor,
que pôr-me neste estado tão perdido?
Que mais feros tormentos, que maior dor
me podes já dar, falso fementido?
É este o prémio, dise, traidor,
do muito que me tinhas prometido,
negando na vitória tão devida
a quem por vós, senhora, perde a vida?
Cuidei que em só amar-vos consestia
o bem que recebi de meus temores,
mas vejo que ele mesmo é a guia
de tristes penas, claros disfavores.
Por ele entregarei a terra fria
e por vossos ducíssimos amores
um corpo de ser vosso tão contente
quantos por vós mouro discontente.
Sustive-me até gora trabalhando
de não se publicar vossa crueza,
mas não me posso já ir enganando
nem menos incubrir essa dureza.
Tormentos tão cruéis estão passando
por essa estranhíssima bilesa
que só descansar pode na morte
quem passa como eu um mal tão forte.
[92r] De fogo sou composto em fogo vivo,
em fogo se tornou meu pensamento,
fogo tão cruel e tão esquivo
que já não tenho em fogo sofrimento,
[92v] assi que tudo queimo em fogo vivo.
Alma, coração cujo tormento
tinha por tão forte, estranho e duro,
que do fogo ser na morte me aseguro…
[152r] No outro que é mais supremo
só o divino se assenta,
justa e clara difirença
de um ao outro estremo.
[157r] Não vos pareça sem fruito
o trabalho do Cuidado,
ainda que vos custe muito,
sendo o prémio tão dobrado.
[158v] Se me caístes por sorte,
como posso ser vencido
nem da Vida nem da Morte,
sendo por vós só perdido?
CARTAS
PARTE I
[90r/b] À princeza Rocilea de Espanha, senhora da fermosura, saúde:
Atrevimentos nascidos de ũa fé tão pura quando não tenho certo o perdão, ao menos tem-no merecido e, se por declarados são ofença, por efeitos de Amor são obrigasõis. Adorar-vos será culpa, porém, deixar de querer-vos, emposível, e ainda que servir-vos seja maior galardão de meos estremos, por satisfação deles me haveis de conseder, senhora, o nome de vosso cavaleiro que, posto que se não mereça, nunca tão bem cuido que não haverá outrem que o mereça mais.
[138r/b] Carta
[138v/a] Luitolfo, príncipe d´Alemanha, [a] Medroapa, Serenísima Rainha d´Espanha, saúde:
Para que acabe de tomar a vingança dezejada contra o império dos gregos só esta todas as horas, esperando ser nela jurada por sua real princeza, a exelente Rocilea, tua filha, nesta cidade que tomei e tirei aos príncipes gregos, que a tinham, com morte e destruição da maior parte de seus defençores. E porque a Rugilando, duque de Lempur, que é o que esta leva, remeto o mais que pudera escrever, espero com tua soberana vinda acabar de sastifazer aqueles antigos agravos que os prínçipes d´Espanha dos de Grécia têm recebido para com a dívida desta obrigação alcansar o que por ti e pela soberana Princeza, tua filha, está jurado e prometido.
PARTE II
[36v] Carta:
Nos trabalhos e graves perigos se conhecem mais os espíritos grandes e generosos, e nos encontrados da adversa e mudável Furtuna os amigos, e porque ambos cuido que temos bem comprido com esta obrigação, queria que somente entendésseis, alto e poderoso príncipe, que enquanto o vosso vaçalo Arideo tiver vida, não faltará em vosso serviço em tudo o que vos comprir e acontecer, pelo que deveis viver sem receo dos imigos que com artes tão sutis e cheas de tanto engano e indústria precuram e andam buscando vosso dano, que pela Providência Devina em si mesmo hão-de ver. Essas armas podeis vestir, ainda que negras e tristes, e feitas para o tempo em que vos tomam, que espero voltar cedo a um estado mais alegre e contente do presente, porque nem a tormenta dura tanto espaço que nele se acabe o mundo, nem espírito que com fortalesa a sustente e encontre que dele não seja vencida, pois é certo ser a variedade de Furtuna tão pouco durável quanto o que está próspero e sempre dele encontrado e perseguido.
[80r] Carta:
Amaltea, infante de Cerdenha, à soberana Rocilea, princeza das estendidas Espanhas, saúde:
Se na presente necessidade e engano em que estás metida a puderes receber, porque saberás, poderoza e alta princeza, que o que presente tens afigurado em Linterno não é Linterno nem pastor nem nunca o foi; é o Príncipe grego e o Cavaleiro do Ardente Resplandor, se algũa ora o conheceste ou o ouviste nomear, que com este entremês e figura em que se muda pela força desse anel que consigo trás te quer roubar e levar ao seu império de Grécia, e o filho de quem da vida presente desterrou teu pai e irmão e filho, de quem em arras pedes a sua cabeça e o que a todos os reinos de Espanha quer defraudar de sua natural princeza pera com mais direito ficar deles senhor; e finalmente o que quer incubrir debaixo do falso nome daquele cruel Amor que publica ter-te, te quer desterrar de teu natural senhorio, de tua honra, de tua limpeza e fama.
Se com estas condições está bem entregar-se a [80v] Sereníssima Princeza das Espanhas ao sanguinolento herdeiro do enganoso e pérfido grego, presente o tens pera que conheças na força deste incuberto segredo o que milhor te pode estar segredo, e segundo o que comprir a tua Real Magestade assim segurar a satisfação e vingança da morte dos teus, ou com real entrega de tua soberana pessoa a de seus fraudulentos e deshonestos amores com que tão enganada te trás.
[94v] À Princeza d´Espanha, minha senhora.
Carta:
Quem vai tão entregue a essa obstinada ingratidão, por grande que seja a fineza de seus leais serviços, mal pode sustentar a vida na dureza de tais encontros e apertada condição. E como isto é assim, não quero mais da Furtuna em galardão desta minha fé e verdade com que vos sirvo que vir dela a conhecer quando a dureza com que até gora me tratastes vos conturbar e levar, apezar de me terdes feito tanto mal, sem aproveitar o arrependimento que disso haveis de ter. E se até disto fordes esquassa, não no sejais de traserdes algum hora à memória quão descontente vai Linterno acabar a vida pelos inculpáveis pensamentos do Príncipe de Grécia, a quem sempre a troco do que vos quer tanto o deixastes e aborresestes. Premita Deus não vos seja sua morte pedida, porque nem com isso poderá ser aliviada ũa alma que tão saudoza vai de quem a assi chegou a um tão triste e mortal fim.
[123v] Carta:
Se sem custo nem tanto sangue dos nossos quizesses e premetisses, sereníssimo e alto príncipe, que acabássemos e concluíssimos de tua pessoa à minha a difirença que ambos temos e que com tanto trabalho à Grécia me fez vir, seria pera mim ũa grande mercê de Deus e a ti ũa não pequena honra por muita que até qui tenhas ganhada e alcansada, e às nossas gentes um mui fermoso espectáculo vendo que com a morte de um de seus capitãis se acabam e consumem todos os perigos e mortes que em ũa tão prelixa e comprida guerra não podem deixar de passar e ter. Com muito gosto será de todos olhada esta vitória que com tanta glória e louvor podemos já alcansar, em que não somente se satisfazem todas as perdas e [124r] danos que em Grécia hoje são feitas, mas aquelas injustas mortes que em Samostrácia se deram aos famozos príncipes de Espanha: tu, não vendo a teus imigos parentes e vaçalos acabar e perecer a poder de ferro e fogo dos poderozos exércitos alemãis; eu, desempenhando a palavra que à Rainha de Espanha tenho dada de lhe entregar tua cabeça; tu, vingando aquelas antigas afrontas que Constantinopla em seu esbulho recebeo; eu, livrando-me daqueles importunos brados de que convencido pela alhea justiça passei em Grécia.
Asi que se por estes e por outros muitos justos respeitos quiseres, alto e poderozo príncipe, aventurar a ũa particular batalha, ou entre outros tantos alcansada, pera ela te desafio diante dos muros dessa cidade, pera que d´hoje a vinte dias ambos em campo sarrado e seguro a façamos e recebamos da inconstante e mudável Furtuna a conclusão de nossos devidos prémios, pera que o que receber fique dela tão izento como confiado em todos os outros seus maos incertos e bons sucessos.
[125r] Carta:
Se do ânimo e espírito escandalizado se podem esperar graças, eu as dou não a quem com tanta injustiça e leves meios moveo a indignação e injúria a todo o Estado de Grécia, mas àquela divina e imensa sabedoria que ordenou traser as cousas a milhor rezão e fim do que tiverão princípio, pera que de todo se acabe de concluir e arrematar a crueldade desta guerra nos que dela foram princípio e deram azo a esta furtuna, persuadindo e assendendo os ânimos de uns homens pacientíssimos a ũas tão novas injúrias que nem já as podem desimular nem sofrer a cólera que a lembrança de tantos males lhes poem diante, e que até agora retive no magoado peito. Mas já que vejo [125v] aberto o caminho ao que tanto desejei, eu asseito a batalha assi e pela ordem que pedis, e no tempo limitado me acharás diante dos muros desta nossa cidade pera que em seu campo sempre vencedor de seus imigos, a vista de nossas gentes e exércitos receba um do outro o prémio de suas cortas e duvidosas esperanças.
[144v] Ser adversa e dura Furtuna da sem-vintura Bricélia diante do grão Príncipe grego algum tempo pode ser conhecida, não quero mor satisfação de meus males nem dos serviços que em nome de Felindo lhe tenho feito e terei por favorecida aquela fé que com tanta lealdade entreguei àquele amor por quem, recebendo a morte, vou estranhamente contente tomar o prémio dos trabalhos que por ti passei. Dos quais e desta pureza do amor e força do encantamento de Eritrea, pois d´outro modo ser não pudera, nasceo esse príncipe, filho teu, a quem por zelo criei e fis o que devia a teu serviço. Peço-te que mo faças grande em galardão de nunca faltar esta fé por quem mouro, porque cuido que ele to merecerá, e se vires ser injusta esta esperança com que vou, lembra-te que to pede a tua cativa Bricélia por benefício de sua constante firmeza.
PROFECIAS
[99r/a] Estas são as armas de Frociano, príncipe de Cerdenha, que pela força de ũa contrária fortuna, quando cuidou alcansar um quieto repouso na vida achou a morte que, sobre os amores da fermosa Rocilea, princeza do reino d´Espanha, lhe deu o Príncipe de Grécia. Ninguém as tome nem tire deste lugar porque estão guardadas para o cavaleiro que no estremo de sua maior tristeza [99r/b] terá poder para com elas livrar a maior imiga que tem.
[132r/a] Padecerá o descuberto Príncipe de Grécia, mudado nas armas do encuberto Cavaleiro do Ardente Resplandor, não somente o engano com que d´Espanha queria roubar sua Sereníssima Princeza, mas a morte sobre seus amores dada ao valerosso príncipe de Cerdenha, Frociano, tormento em que estará até o tempo que a própia e natural princeza Rocilea, levada de seu natural temor, verdadeiramente aparte o cruel venablo de seu amorosso e ferido peito para com sua própia morte nele dada lhe reserve do que nas mãos dos cruéis gigantes cuida que pode reseber.